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Três Lagoas

?Três Lagoas tem muito o que comemorar?, diz arquiteto

Para Fayez José Risk, Três Lagoas é um polo promissor de desenvolvimento

Arquiteto e urbanista Fayez José Risk -
Arquiteto e urbanista Fayez José Risk -
Três Lagoas completa, no próximo mês, 98 anos de emancipação político- administrativa. Um dos grandes marcos para o desenvolvimento da cidade foi a elaboração do Plano Diretor, que só ocorreu em 2006. Embora não seja tão evidente para a maioria da população, segundo o arquiteto e urbanista Fayez José Risk, esse é um marco na história do planejamento da cidade. Apesar dos diversos problemas que a cidade vem enfrentando em razão do crescimento populacional, Fayez acredita que Três Lagoas tem muito o que comemorar, já que é um polo promissor de desenvolvimento.

Na entrevista especial desta semana, o Jornal do Povo conversou com o arquiteto e urbanista Fayez José Risk, um dos responsáveis pela elaboração e revisão do Plano Diretor de Três Lagoas. Mesmo residindo hoje, em Campo Grande, Fayez continua dando a sua colaboração para o desenvolvimento da nossa cidade. 

Jornal do Povo – No próximo mês, Três Lagoas completará 98 anos. Qual a avaliação que o senhor faz da cidade?
Fayez José Risk- Faria essa avaliação de duas formas: a primeira, na memória afetiva, que vem da minha infância, quando eventualmente ficava por algum tempo na cidade e, recentemente, ao morar aqui por dois anos, em uma cidade bonita, tranquila, um bom lugar para viver! A segunda, como Arquiteto e Urbanista, ao ver a cidade pujante, um polo de desenvolvimento que “cheira” progresso, avanço, sem, no entanto, perder esse aspecto agradável, de um município acolhedor, carinhoso.

JP- Qual foi o avanço que Três Lagoas teve com o passar dos anos?
Fayez –Toda cidade é um organismo extremamente complexo, independentemente do seu tamanho. Ao olharmos para ela, por maior que seja a abrangência desse olhar, é difícil obtermos toda a compreensão do que representa, no tempo e no espaço, mas é evidente o avanço de Três Lagoas, sob vários aspectos. Ao dizermos isso, falamos não só do crescimento físico, das vias e construções, o que é visível aos olhos, mas também do desenvolvimento econômico e social. Três Lagoas deixou de ser uma cidade relativamente desconhecida e com uma economia calcada na pecuária para se transformar em um polo de desenvolvimento nacional. E tem muito mais a se desenvolver. Esta é a palavra chave: Desenvolvimento… Significa mais do que o crescimento físico ou populacional. Implica que todos os cidadãos tenham mais educação, saúde e renda, mesmo com os problemas que esse desenvolvimento traz à população.

JP- Três Lagoas é considerada uma cidade planejada? Por quê?
Fayez – Na verdade, toda cidade, poderíamos dizer a grosso modo, tem um planejamento quando se consideram as regras introduzidas pela legislação em todos os níveis. Assim, todo crescimento e desenvolvimento tem uma forma de “planejamento” quase imperceptível, sem considerar o ato de planejar efetivado pela própria sociedade, nos seus relacionamentos econômicos, sociais, nos interesses, nos objetivos dessa mesma população. De forma mais clara e na ótica do poder público, a cidade de Três Lagoas tem hoje um sistema que permite esse planejamento de forma mais consistente, a partir de um marco importantíssimo, que é o Plano Diretor do Município, que explicita regras mais claras nos vários aspectos, não só físicos, como já disse, mas no que se refere ao desenvolvimento social, na saúde, educação e geração de renda.

JP- Há algo que precisa ser melhorado na cidade? O que, por exemplo, e por quê?
Fayez – Não existe uma cidade “acabada”, pronta, ideal! Um município é um organismo vivo, que sempre vai ter demandas de desenvolvimento em busca desse lugar utópico, pois a cidade ideal para uma pessoa não é necessariamente a ideal para o seu vizinho, seu familiar ou mesmo para a maioria da população. É inerente ao ser humano a sua busca pelo bem-estar. Essa demanda sempre refletirá necessariamente as demandas do coletivo, do povo! Assim, poderíamos dizer que tudo pode ser melhorado, mas, certamente, Três Lagoas avançou muito em vários aspectos. Seria leviano apontar, a distância, aspectos que podem ser “melhorados”. Esse termo seria uma tradução popular do que significa desenvolvimento. É importante que se diga que é essencialmente a população, de forma democrática e representativa, que conduz esse processo, mas é preciso que ela saiba que o poder público municipal de todas as cidades do país enfrentam hoje uma crise causada pela absurda concentração de poder, dos impostos, da arrecadação, nas mãos do governo federal. Esse é um gravíssimo problema, pois enquanto as demandas urgentes da população estão aqui, na nossa frente, o dinheiro está lá em Brasília, obrigando os gestores a ficarem de pires na mão, praticamente implorando por recursos. É uma crise, como disse, gravíssima, que põe em risco o bem-estar dos munícipes de todo o país!

JP- O senhor ajudou na elaboração e também na revisão do Plano Diretor do Município. Qual a análise que faz da cidade, antes e depois desse plano? 
Fayez – Tive a honra de elaborar o Plano Diretor de Três Lagoas, a convite da então Prefeita Simone Tebet, com a colaboração de várias pessoas, dentre as quais destaco o geógrafo Otony Ornellas e a consultoria do Arquiteto e Urbanista Ângelo Arruda. Realmente, esse é um marco na história do planejamento da cidade. Como eu costumo dizer, é o “manual de funcionamento” do município, pois nele constam referências sobre as regras de crescimento e a indicação de caminhos para o desenvolvimento da cidade. Não temos a pretensão de dizer que Três Lagoas “melhorou” por causa disso, mas certamente algum efeito teve e ainda tem! Também é importante que se diga que o Plano é participativo, uma vez que teve a sua elaboração e posterior revisão totalmente aberta à discussão por toda a população. Portanto, não foi um Plano elaborado no gabinete e imposto de forma arbitrária. Tanto é que, pessoalmente, discordo de alguns aspectos dele, mas democraticamente os aceito. 

JP- O que o senhor destaca de mais positivo no Plano Diretor?
Fayez – É difícil dizer o que é melhor, o que funcionou ou o que não funcionou no Plano Diretor. Só o tempo e a população é que dirá se haverá necessidade de correção de rumos. O Urbanista não é onipotente. Ele apenas tenta traduzir demandas da população e transformá-las em diretrizes de desenvolvimento ordenado.

JP- Com o crescimento demográfico da cidade, um dos problemas enfrentados pela população está relacionado ao sistema viário, que hoje está um caos. Como o senhor analisa essa questão e o que poderia ser feito para melhorar essa área?
Fayez – Essa é uma das diferenças entre crescer e se desenvolver. Três Lagoas, assim como Campo Grande, tem um grave problema: o tamanho físico da cidade, ou seja, a sua área. São vários os vazios urbanos que, se ocupados, levariam Três Lagoas a ter provavelmente um milhão de habitantes! Esse é um aspecto crítico que venho combatendo há muito! O volume de habitantes não é necessariamente um bem, pelo contrário! Uma grande cidade em um país pobre, com essa distorção a que me referi, de concentração nas mãos do governo federal, torna sua administração adequada praticamente impossível!
O crescimento físico de uma cidade gera o aumento proporcional do número de vias a serem cuidadas. São muitos quilômetros a serem pavimentados e conservados. As distâncias aumentam, exige-se mais do sistema de transporte, público ou privado, mais fiscalização de tráfego, aumentam os acidentes, sobrecarrega-se o sistema de saúde pública etc. Como se vê, é um “problemão”, que exige planejamento, mas que tem questões que fogem do controle do município. Um exemplo disso é o incentivo que o governo federal (mais uma vez ele…) deu e continua dando para a compra de veículos automotores. Em Três Lagoas, esse aspecto está claro: os moradores trocaram as bicicletas pelas motocicletas. Com isso, aumentaram os acidentes, há uma sobrecarga no sistema de saúde e de segurança. Assim, qualquer solução demanda recursos financeiros. E muitos deles, repito, estão nas mãos do governo federal.

JP- Três Lagoas é planejada e se preparou em todos os sentidos para receber mais moradores nos próximos anos?
Fayez – Pois é… preparada em área física ela está. Como disse, a cidade pode, com o número de lotes de hoje, chegar próximo a um milhão de habitantes. Mas e o caos que isso produziria? Vamos deixar claro: aumento de população não significa necessariamente desenvolvimento. É um perigo a ser evitado, com planejamento,  controle urbanístico, que é um processo constante e que exige recursos financeiros.

JP- Três Lagoas é uma cidade promissora?
Fayez – Sim, lógico que é! São inúmeras as condições que fazem de Três Lagoas um polo promissor de desenvolvimento. Por isso, deve ser cercada de cuidados para que isso não se torne um problema no futuro. Ela tem muito ainda a se desenvolver!

JP- O senhor já havia falado sobre o risco de Três Lagoas ter favelas. Por que acredita nessa possibilidade? E como isso poderia ser evitado?
Fayez –Toda moeda tem duas faces… Se por um lado, a cidade tem todas as condições para se desenvolver e crescer, esse desenvolvimento e principalmente o crescimento populacional pode eventualmente trazer o problema das habitações inadequadas, que aglomeradas, formam as favelas. Esse é o preço a pagar, se não houver um controle adequado. Mas tenho certeza de que o poder público municipal está atento a esse e outros aspectos e tem em mãos instrumentos para esse controle, mesmo, repito, com dificuldades devido à concentração de recursos nas mãos do governo federal.

JP- O que o senhor acha que poderia ser feito na área da antiga Esplanada da Noroeste do Brasil (NOB)?
Fayez – No Plano Diretor, tratamos essa área como Zona de Interesse Cultural, protegendo-a da degradação e já prevendo, à época, a retirada dos trilhos e a construção do contorno ferroviário. São inúmeros os usos que poderão ser feitos no local, especialmente para o lazer, cultura, esporte e infraestrutura da cidade, o que inclui até o sistema viário, afinal, esse é o grande eixo da área urbana. Certamente, o poder público pensará em uma boa aplicação para esse patrimônio do município.

JP- O que poderia ser feito para que Três Lagoas tenha um aspecto melhor e se torne uma cidade mais apreciada no plano paisagístico e estético?
Fayez – Bem, eu adoro Três Lagoas e a tenho no meu coração. E quando a gente gosta do lugar onde mora ou está, tem carinho, cuida desse lugar! Por isso, penso que a população é a primeira responsável por esse aspecto. Cada um deve cuidar do seu entorno, a partir de hábitos saudáveis, tendo cuidado com o lixo, com a arborização, com a sua calçada, a limpeza urbana, enfim, com a soma de pequenas atitudes poderemos melhorar o que já é bonito. Quem tem uma paisagem maravilhosa como as lagoas ou o Sucuriú tem que se orgulhar e cuidar!

JP- O senhor já morou em Três Lagoas e trabalhou na Prefeitura na gestão da ex-prefeita Simone Tebet. Por que deixou a cidade? Tem pretensão de retornar?
Fayez – Tive a honra de trabalhar com Simone Tebet, uma gestora excepcional, e aprendi muito com ela, assim como colaborei com a prefeita Márcia Moura, por quem também tenho muito apreço e admiração. Eu entendo que essas administrações serão um marco no futuro, o marco do antes e do depois. Eu deixei a cidade por aspectos puramente profissionais, para outras missões governamentais, mas continuo como cidadão dessa cidade. E pretendo retornar. Tenho planos de instalar meu escritório de Arquitetura do qual muito me orgulho. Eu já tenho um projeto em construção, que é o receptivo do Aeroporto de Três Lagoas.

JP- Para finalizarmos, Três Lagoas tem o que comemorar? 
Fayez – Lógico que tem! Uma cidade linda, um povo trabalhador, em pleno desenvolvimento, por isso há muito a ser comemorado. Otimismo é a palavra! Os eventuais problemas podem e vão ser superados! Certamente, há muito a comemorar!