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Editorial

UFN3: estratégia ou fracasso?

Leia do editorial da edição do Jornal do Povo desta semana

Leia do editorial da edição do Jornal do Povo desta semana - Arquivo/Jpnews
Leia do editorial da edição do Jornal do Povo desta semana - Arquivo/Jpnews

O fracasso do contrato com o grupo russo Acron, que chegou a anunciar a retomada das obras da Unidade de Fertilizantes Nitrogenados de Três Lagoas (UFN3) para julho deste ano, tem impacto negativo sobre o setor socioeconômico do município e região, passando pela falta de habilidade política e aumento dos custos de produção no campo, até chegar ao final dessa cadeia, ao consumidor que a cada dia paga mais caro por menos fartura à mesa, devido à alta no preço dos alimentos.

A fábrica de fertilizantes, que começou a ser construída em 2011, havia sido projetada pela Petrobras para produzir anualmente 1,2 milhão de toneladas de ureia e 70 mil toneladas de amônia – quantidade suficiente para reduzir o gargalo das importações do país que hoje lidera o ranking mundial dos compradores desses insumos. E, quando se fala em balança comercial, as importações brasileiras de fertilizantes somente no primeiro trimestre deste ano somaram 315 mil toneladas, de acordo com dados da Secretaria de Comércio Exterior do Ministério da Economia.

Esse total representa quase a mesma quantidade de fertilizante que seria produzido em igual período de três meses pela UFN3, caso estivesse em funcionamento. Até o momento, a população brasileira, principalmente o três-lagoense, só assistiu a um festival de polêmicas envolvendo a UFN3, que teria a produção destinada preferencialmente para atender aos mercados dos estados de Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Paraná, Goiás e São Paulo.

  A começar pelas obras que nunca foram finalizadas e consumiram cerca de três bilhões de reais, um bilhão a cada ano. O primeiro contrato da Petrobrás foi rompido em 2014 com o consórcio formado pelas empresas Sinopec e Galvão Engenharia, por descumprimento de cláusulas. Na época, fornecedores e milhares de trabalhadores foram prejudicados com o abandono do empreendimento. Em 2017, veio o anúncio de venda da fábrica, mas, no ano seguinte, o Supremo Tribunal Federal não permitiu a privatização, medida que só foi revogada dois anos depois, quando a Petrobrás anunciaria que pretendia sair do mercado de fertilizantes.

Neste ano, desde a chegada do grupo russo que retomaria as obras da Unidade e finalmente a colocaria em funcionamento, até a quebra do contrato, a Petrobrás registrou um aumento em sua receita líquida que passa dos 60 por cento (64,4%), quando comparada ao primeiro trimestre de 2021, o que representou um lucro líquido para a empresa no valor de R$ 44,5 bilhões de reais. De acordo com analistas de mercado, esse montante é o maior lucro já divulgado por uma empresa de capital aberto para o primeiro trimestre.

Difícil é para o cidadão comum entender como uma empresa com esse mega lucro não conclui o empreendimento da UFN3 em Mato Grosso do Sul para, somente então, disponibilizá-lo ao mercado de investidores, com maior valor agregado. Aliás, enquanto a Petrobrás registra um lucro histórico, o brasileiro é obrigado a pagar pelos frequentes aumentos no preço dos combustíveis.  

E, voltando à tão sonhada fábrica de fertilizantes, que por uma “falha” no edital de venda poderia se tornar uma simples misturadora e distribuidora de produtos, vale registrar que outras duas empresas já anunciaram interesse em comprar a unidade. Com certeza, sabem que os R$ 5 bilhões oferecidos pelos russos podem valer muito mais do que se imagina. 

Difícil é compreender também a falta de vontade política e de determinação dos nossos representantes nos poderes executivo e legislativo para resolver todo esse imbróglio.  Resta saber quem ficará com o lucro e quem arcará com o prejuízo!