Por um cateter introduzido em uma veia, no braço, o sangue “sai” do corpo e é filtrado em uma máquina, num procedimento que leva até quatro horas, mas que é capaz de deixá-lo limpinho. Depois disso, até três vezes por semana, o paciente pode voltar para casa e ter uma vida mais ou menos normal.
A rotina é de quem precisa enfrentar o tratamento de hemodiálise. Na realidade, de quem necessita de um transplante de rim e aguarda na fila do Sistema Único de Saúde (SUS) pela sua vez.
As idas e vindas ao hospital desgastam o paciente. Cansam ainda mais quem não conseguem vaga em Três Lagoas e precisam fazer tratamento em cidades vizinhas, onde haja um aparelho de hemodiálise disponível. E aí, as quatro, cinco horas sentado na cadeira para o tratamento praticamente dobram por conta do tempo gasto na estrada.
Hoje há 88 pacientes atendidos pelo setor de hemodiálise do Hospital Auxiliadora, de Três Lagoas – 60% deles pelo SUS. A instituição de saúde é responsável por pacientes de dez cidades da macrorregião, além de Três Lagoas.
O setor tem 14 máquinas que funcionam sem parar de manhã, à tarde e à noite. “As vagas são restritas porque não temos mais estrutura para receber mais serviços de hemodiálise”, disse o diretor administrativo do hospital, Marcos Antônio Calderón.
Por isso, o hospital lançou uma campanha para elevar o número de equipamentos para 30 e, com isso, atender a 120 pacientes por dia, combatendo uma demanda reprimida de seu setor de Nefrologia. As obras e a compra das máquinas devem custar R$ 1,2 milhão – dinheiro que sairá do Ministério da Saúde por meio de emendas parlamentares e de arrecadação de doações, além de promoções solidárias da instituição.
Você sabia que a água de hemodiálise deve seguir uma lei?
A água pode parecer uma coadjuvante quando o assunto é hemodiálise. Mas trata-se de uma das figuras mais importantes. Para se ter uma ideia, para realizar o tratamento é preciso cumprir a resolução n° 1671, de 30 de maio de 2006, que estabelece os indicadores para subsidiar a avaliação do Serviço de Diálise. O Hospital Auxiliadora, em Três Lagoas, segue à risca esta norma e, por isso, é referência no assunto.
A lei tem como objetivo de estabelecer os requisitos de boas práticas para o funcionamento dos serviços de diálise. Entre as definições, deve-se utilizar água que atenda ao padrão de potabilidade estabelecido pelo Ministério da Saúde e responder a uma série de exigências. Deve possuir, por exemplo, um concentrado polieletrolítico para hemodiálise – CPHD: concentrado de eletrólitos, com ou sem glicose, apresentado na forma sólida ou líquida para ser empregado na terapia dialítica.
Outro ponto interessante é o de sistema de tratamento e distribuição de água para hemodiálise – STDAH. Trata-se de um sistema que tem o objetivo de tratar a água potável tornando-a apta para o uso em procedimento hemodialítico. É composto pelo subsistema de abastecimento de água potável, pelo subsistema de tratamento de água para hemodiálise e pelo subsistema de distribuição de água tratada para hemodiálise.
Quanto ao quesito de licença para exercer o serviço, o hospital deve manter o documento atualizado e é emitido pelo órgão sanitário competente dos estados, Distrito Federal ou dos municípios, contendo permissão para o funcionamento dos estabelecimentos que exerçam atividades sob regime de vigilância sanitária.
O caminho do sangue
De quem doa a quem recebe a transfusão. Você já deve ter se perguntado qual é o caminho que o sangue doado percorre antes de ser submetido a uma transfusão e como são os cuidados para que ele chegue da melhor maneira ao paciente que precisa. Isso porque, a maioria das pessoas, conhecem as etapas que antecedem a doação, afinal, são os processos aos quais são submetidos. Mas, mesmo depois de coletado, o material passa por uma série de procedimentos e exames que garantem a preparação correta das bolsas de sangue. Isso para que, quando a transfusão ocorra, os hemocomponentes estejam corretamente preparados e possam ser transfundidos no momento certo e na quantidade adequada à necessidade do paciente.
O caminho do sangue começa pela procura do doador por um banco só termina na hora em que o paciente recebe o sangue através de uma transfusão.
Três Lagoas possui uma unidade de saúde responsável pela captação de sangue e armazenamento para transfusão. O Hemonúcleo é responsável por atender não apenas aos pacientes do município, mas também de outros cinco que integram a nossa macrorregião. De acordo com a instituição, atualmente, 15 mil pessoas estão cadastradas e a média de doação é de 200 bolsas por mês.
Antes da doação
Quando alguém procura um banco de sangue para realizar a doação, existem procedimentos que são seguidos à risca e servem como padrão para todas as pessoas. O primeiro passo é a identificação do candidato para a criação de um cadastro com informações pessoais e orientações sobre doação de sangue.
Em seguida, o doador passa para a triagem clínica, que consiste em uma avaliação clínica e epidemiológica, um exame físico, e a análise, por um profissional da saúde capacitado, das respostas do candidato a um questionário padronizado, que avalia a história médica atual e prévia, os hábitos do voluntário e fatores de risco para doenças transmissíveis pelo sangue. Todas as informações são confidenciais. Os sinais vitais também são aferidos (pressão arterial, pulso e temperatura), o peso e a altura, dosagem de hemoglobina ou medida do hematócrito. Ao final desse processo, o candidato pode ser considerado apto, inapto temporariamente, inapto definitivo e inapto por tempo indeterminado. Em todos os casos o paciente deve ser comunicado do motivo.
Caso o paciente seja considerado apto, deve assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) para a doação, no qual declara ter recebido todas essas informações, ter resolvidas todas as suas dúvidas e que concorda em doar sangue.
A coleta de bolsas de sangue é feita com material descartável, estéril, e de uso clínico. O procedimento passa por um controle rigoroso para evitar a contaminação da unidade coletada, e o profissional treinado deve evitar complicações locais, como hematomas. A doação não dura mais de 15 minutos, e o processo todo dura em média 40 minutos. É necessária uma observação por alguns minutos antes da liberação do doador, para verificar se não há quaisquer sintomas. O doador também é orientado a comer, aumentar ingestão de líquido, e evitar atividades físicas intensas.
Depois da doação
Ao final da doação, os tubos de amostras são enviados aos laboratórios correspondentes e as bolsas são transportadas, em condições adequadas, para o setor de processamento do sangue total, para a produção e modificação de hemocomponentes. O serviço de hemoterapia “divide” o sangue em componentes eritrocitários (concentrados de hemácias), plaquetários e plasmáticos. Esses hemocomponentes podem ser modificados para atender necessidades especiais de alguns pacientes. São feitos testes de sorologia, biologia molecular e imuno-hematológico, que é quando o tipo de sangue e suas características vão ser descobertas.
Enquanto os exames não chegam, as amostras ficam armazenadas temporariamente até a liberação do teste. Esse processo é chamado de quarentena. Só são liberadas as bolsas com resultados não reagentes/negativos para os testes sorológicos e para os testes de detecção de ácido nucleico viral (NAT), que são duas metodologias de testagem utilizadas atualmente no Brasil para o sangue doado.
Após obtenção dos resultados dos exames de qualificação do sangue do doador, os hemocomponentes são liberados no sistema informatizado e, em seguida, emitidos os rótulos de produtos liberados, que são firmemente afixados a eles, respeitando a identificação numérica ou alfanumérica que a bolsa traz desde a coleta e completando o rótulo com as informações da liberação. Os bancos também seguem à risca os procedimentos de conservação específicos de cada um dos hemocomponentes.
Passadas por essas etapas e diante de uma requisição de transfusão e sua prescrição no prontuário médico, são coletadas amostras de sangue do receptor. O profissional capacitado faz a coleta e identifica o paciente através de um bracelete. Os tubos com amostra também devem ser rotulados de maneira imediata. As amostras são encaminhadas ao laboratório para realização dos exames pré-transfusionais, que dirão qual tipo de bolsa para transfusão o paciente precisa.
Todos os cuidados são tomados antes de iniciar qualquer processo de transfusão, como conferir os dados e o tipo sanguíneo da bolsa, junto com a prescrição médica. Verificar as informações do paciente, aferir a temperatura, frequência cardíaca, pressão arterial e frequência respiratória do receptor também é uma etapa importante. Depois de iniciada a transfusão, o profissional de saúde deve acompanhar por no mínimo 10 minutos o paciente, com o intuito de evitar qualquer reação e problemas mais graves decorrentes do processo. Caso isso venha a acontecer, o médico deve definir as medidas que serão adotadas.
Tecnologia
Realizar cirurgias bariátricas é quase um desafio para a maioria dos hospitais. O procedimento altamente complexo exige providências preliminares que vão além das consultas ao médico, redução de peso etc. A montagem de equipe de profissionais especializada na aplicação de técnicas e no período pós-operatório, além da instalação de centro cirúrgico e UTI com equipamentos de alta tecnologia, é parte de um processo bastante complexo.
E complexidade é o termo que define os investimentos do Hospital Cassems em Mato Grosso do Sul. No de Três Lagoas, a realização de cirurgias bariátricas (conhecidas como redução do estômago) faz parte de uma lista de procedimentos de alta complexidade encontrados em poucas cidades do Estado.
O gerente geral Efraim Gomes relaciona os investimentos às carências do setor de saúde na Costa Leste. “A Cassems de Três Lagoas é a grande referência em alta complexidade médica devido a investimentos e preparação como a da realização de cirurgias bariátricas. Mas, há outras, como as neurológicas, os procedimentos cardíacos e as nossas UTIs adulto e neonatal”, cita.
Toda a estrutura hospitalar é, segundo Efraim, resultado de planejamento e estudos que apontaram a direção dos investimentos. “Nós buscamos atender as necessidades da região. Há ainda outras áreas carentes de avanços, e estamos na direção delas. A começar pelas UTIs e o treinamento constante de nossas equipes, passaremos por outras etapas para incluir ainda outras áreas em nosso portfólio de atendimento”, arremata.
Acesso à saúde no bairro
O anúncio de que Três Lagoas ganharia seis novas farmácias dentro dos postos de saúde refletiu em mais acesso aos serviços nos bairros da cidade. Desde que assumiu o cargo, em 2017, o prefeito Ângelo Guerreiro (PSDB) traçou planos de meta para tirar a promessa do papel. E não demorou. Em março do ano passado veio a primeira e foi na Clínica da Mulher. Em setembro, no posto de saúde Jardim Maristela e em outubro no Jupiá.
Neste ano, as unidades de saúde dos bairros Interlagos e Santo André tiveram farmácias inauguradas durante o primeiro quadrimestre. A última da lista é da Vila Haro, que, no entanto, ainda não tem prazo de entrega.
Na prática, a vida de muitos três-lagoenses mudou. O paciente que antes precisava ir até o Centro de Especialidades Médicas (CEM), no Santos Dumont, agora, encontra os medicamentos necessários em seu bairro ou em algum próximo de onde mora.
Para se ter uma ideia, a instalação de uma farmácia na unidade de saúde Santo André beneficiou diretamente mais de 2,7 mil famílias, o equivalente a uma população estimada em torno de 11 mil pessoas. Isso porque moradores dos bairros Santo André, Jardim Novo Aeroporto, Jardim Dourado, Santa Lourdes e Jardim das Paineiras usufruem o serviço público deste posto.