A novela que teve um repórter investigativo como herói e par romântico da mocinha chegou à reta final pressionando o jornalismo independente. Pior: partiu para uma retaliação que deixaria à beira de um ataque de nervos o combativo Zé Bob – um bastião da liberdade de informação -, com uma espécie de caçada às fontes de notícias.
Depois de O DIA divulgar com exclusividade na coluna Telenotícias os finais de A Favorita, há uma semana, a TV Globo iniciou uma série de procedimentos para tentar identificar quais pessoas poderiam ter repassado a informação ao jornal.
O pedido foi feito pelo próprio autor da novela, João Emanuel Carneiro, que, irritado, durante a semana anunciou que faria mudanças no último capítulo. O que não aconteceu – Lara atirou em Flora, que terminou presa, como o jornal antecipou. Irritado, João Emanuel chegou afazer ameaças nesta sexta-feira em entrevista à publicação.
"Nunca mais na minha vida vou dar nenhuma notícia para o jornal O Dia e vou tratar também para que a empresa (TV Globo) não mais se relacione com esse jornal por ter publicado isso", disse o novelista, numa declaração que faria Flora ruborizar. No período de exibição de sua obra, Carneiro já havia se recusado a conceder entrevista ao jornal.
Desde o fim de semana, veículos de imprensa vêm noticiando o mal-estar dentro da emissora após a publicação do furo. Reportagem da revista Veja do último domingo sustentou que o autor ficou muito irritado com o vazamento de cenas importantes do último capítulo e decidiu fazer mudanças. Na sexta, o colunista Daniel Castro, da Folha de S. Paulo, escreveu que uma CPI foi instalada para apurar quem vazou a informação. Até mesmo uma publicação da Infoglobo, que pertence às Organizações Globo, descreveu como "caça às bruxas" a investigação.
A emissora se pronunciou apenas em texto da Central Globo de Comunicação. "Especulações e fantasias sobre o final de uma trama contribuem para sua divulgação. A TV Globo, assim como qualquer empresa séria, reage a eventuais atitudes desleais."
Antecipar finais de tramas é objeto de cobiça da imprensa. E há autores que até defendem a divulgação para criar mais expectativa. "A imprensa sempre contribui, jamais destrói. O fato de vazar já acontece há anos. Os autores sempre ficam preocupados, mas isso sempre vai acontecer e o público nunca deixará de acompanhar. Desperta ainda mais o interesse", aposta o ator Jackson Antunes, o Léo de A Favorita.
Mesmo sem defender a idéia, alguns autores acreditam que isso não atrapalha em nada o sucesso do último capítulo. "De modo geral, a divulgação antecipada não prejudica a audiência. Não basta apenas saber o que vai acontecer, o público quer saber como os fatos vão se desenrolar", opina Ricardo Linhares, autor de Paraíso Tropical ao lado de Gilberto Braga.
"É evidente que saírem na imprensa momentos da trama ajuda na divulgação", admite Benedito Ruy Barbosa, que evita divulgação dos capítulos finais. "Os autores se queixam sempre", analisa o autor Benedito Ruy Barbosa. "Em Pantanal (exibida em 1990 na extinta TV Manchete e reprisada recentemente no SBT), a (também extinta) revista Manchete publicou o final e eu fiquei louco da vida. Então mudei algumas coisas", lembra ele.