Acredite. Você pode se tornar um homem melhor aprendendo dança de salão (e ainda fazer mais sucesso com as mulheres).
Você leu dança de salão acima e ficou arrepiado. Sua primeira reação foi imaginar roupas colantes, sapatilhas, gestos exagerados, um determinado programa de TV dominical e a sua tia de 62 anos chacoalhando ao som de um bolero.
Sua segunda reação foi pensar que homem que é homem não faz dança de salão. Tudo isso para disfarçar aquele sentimento incômodo: eu não sei dançar, nunca vou conseguir e não quero passar ridículo.
Sentimos muito em lhe dizer, mas você está redondamente enganado. Com escolas e academias investindo nessa modalidade há alguns anos (pois é, o programa de TV é conseqüência e não causa) e inúmeras casas de forró, salsa, gafieira, merengue e zouk se espalhando pelo Brasil, se você não souber dar sua requebrada, você já era. E aprender a dar os primeiros passos não é tão difícil assim:
Passo número1 – comece do princípio
Não sabe nem acompanhar ritmo de música batendo o pé no chão? Vá fazer um curso básico. Você vai encontrar pelo menos outras 20 ou 30 pessoas na mesma situação e que vão errar tanto quanto você. Não existe passar ridículo, e sim, dar boas risadas com a inabilidade do grupo. Isso por pouco tempo. Depois de um mês, você estará bailando como um louco.
Passo número 2 – você não precisa ir acompanhado
Na maioria das vezes, tem muita mais mulher do que homem nas classes. A maioria, mulheres que sonham com um cara que saiba dançar. E o fato de você estar lá, já é um ponto a favor. E mais, as escolas incentivam as parceiras a dançar com todos, assim você pratica todo tipo físico. E entre um giro e outro, sempre dá para se conseguir um número de celular.
Passo número 3 – você não vai usar black-tie
A famosa e lendária Madame Poços Leitão, professora de dança e boas maneiras em São Paulo, exigia que seus alunos estivessem sempre de sapato com meia, lenço no bolso e unhas cortadas. As escolas de dança atuais, não. Você dança de jeans, bermuda, tênis, terno. Vai como quiser. Obviamente que é melhor estar com um sapato cujo solado desliza. Vai facilitar os giros e passos e lhe poupar dar encontrões constrangedores na parceira. E nada de roupas com babados, OK?
Passo número 4 – onde eu vou usar tango e bolero?
Só se dança bolero em bodas de prata, não é? E as escolas sabem disso. Vladimir Udiloff, sócio em um espaço de dança no bairro de Pinheiros em São Paulo, diz que eles miram em praticidade e usabilidade, ou seja, você vai aprender ritmos que pode usar em locais públicos. Se você quer aprender tango, swing (a dança, amigo!) ou sapateado por razões emocionais, faça um curso específico.
Passo número 5: os homens mandam
Apesar da desconfiança de algumas garotas e do discurso de liberação feminina dos anos 60, na dança quem decide para onde ir, como ir, na velocidade e variação dos passos é o cavalheiro. Tudo vai estar em suas mãos (ou pés). Pense bem, talvez seja um dos poucos momentos na sua vida onde você vai ter a oportunidade de comandar uma mulher sem ela poder falar absolutamente nada. E ela até vai gostar, quando se acostumar com a idéia.
Giro do homem: …mas tem que aprender a mandar direito…
A menos que seja fanático pelo Jece Valadão, você não vai empurrar a garota, ou puxá-la para todo o lado. Liderar a dança exige firmeza e tato, sem o uso da força. Aí está o grande desafio. É no toque e na linguagem corporal que as coisas acontecem.
Giro da mulher: …porque elas estão te avaliando…
A mulher inspira sua dança. Pelo jeito de sua parceira, você vai trazê-la para mais perto ou mais longe, vai girar mais ou menos. Assim como na vida, essa sua condução das coisas, vai ser medida por ela. E aí, dá-lhe notas para os quesitos cavalheirismo, firmeza, capacidade de planejamento, de consertar passos errados e as famosas pisadas no pé. Lembre-se da chantagem básica de sua companheira de dança: não foi ela quem errou. Foi você quem conduziu mal.
Passo número 6 – bons dançarinos são bons amantes
Você acha que, depois de aprender na dança, a se soltar, a pegar uma mulher com jeito, conduzi-la com maestria e trocar olhares profundos, você vai continuar a se comportar nas baladas como um troglodita? Definitivamente não. E pode apostar, elas vão notar isso em você e adorar seu novo jeito de agir.
Fim da dança
Fisicamente, aprender a dançar é ter um conhecimento melhor do seu corpo e espaço e ficar mais descontraído. Psicologicamente, a dança aumenta a confiança, a coordenação e a liderança. Estrategicamente, você sempre vai levar vantagem em cima daquele cara sarado, pinta de modelo, que está sentado na danceteria, segurando uma lata de cerveja, enquanto você está na pista.
Pequeno dicionário dançante
Bolero – considerada extremamente romântica porque os casais ficam juntinhos e rodopiam pelo salão. É a dança preferida da sua tia. Precisa falar mais?
Forró – dança nordestina, hoje dividida entre o forró tradicional (com casais mais grudados) e universitário (que incorpora giros e figuras conduzidas pelos braços). É a mais popular das danças hoje no Brasil.
Lindy hop – a precursora do rock e do soltinho, apareceu nos EUA na década de 30, dançada ao som do swing. É aquela que você vê em filmes de pracinhas da Segunda Guerra. Para avançados.
Merengue – original da República Dominicana, é a mais fácil das danças e dá a base para os giros de todas as outras. Especial para iniciantes.
Salsa – mistura de ritmos afro-caribenhos, hoje é dançada em dois estilos: cubana (mais requebrados e dançada em curvas) e Los Angeles (dançada em linha com giros mais rápidos). Para quem já dança um pouco.
Samba de gafieira – originária do Rio de Janeiro, traz toda a malandragem e ginga do carioca em desenhos belíssimos, onde o casal faz grandes deslocamentos na pista.
Samba-rock – também conhecido pelo samba de paulista, é dançado principalmente com os braços e traz todo um swing e uma forte marcação.
Soltinho a versão carioca para o rock´n´roll, mais lenta que o original, é especialmente indicada para dançar aqueles antigos sucessos dos anos 80 e para o pop brasileiro.
Tango – a dança mais famosa da Argentina, virou febre nos EUA depois do filme Perfume de Mulher. O que nos faz pensar em porque o samba também não é difundido lá fora? Será falta de investimento no turismo e cultura dos brasileiros?
Zouk – novo nome para a decadente lambada, mas agora está mais elaborada e bem mais sensual. Também recomendada para avançados.
Dançando com as estrelas
Quatro filmes para inspirar suas aulas: O MELHOR – Dança Comigo: filme japonês de 1996, depois adaptado na América em 2004 com Richard Gere no papel principal. Nas duas versões, a história de um homem bem-casado e bem posicionado na vida, que busca a dança para escapar do tédio e da rotina do dia-a-dia. O destaque vai para o colega de trabalho do personagem principal, que já é dançarino.No Japão ele era considerado esquisito. Nos EUA, gay.
O BREGA – Vem dançar comigo (1992): primeiro filme de Baz Luhrmann, diretor de Moulin Rouge, pode ser considerada a obra cinematográfica mais cafona já feita. Tão brega que diverte. Passada numa escola de dança para competidores, aqui sim você vai ver babados e lantejoulas. Na trilha sonora, a terrível Love is in the air de John Paul Young.
O CLÁSSICO – Os Embalos de sábado à noite (1977): dizem que a discoteca acabou com a dança em casal já que a música permitia que cada um bailasse sozinho, mas convenhamos Tony Manero é o cara! Até caminhando o cara tinha ginga. E mais, era respeitado por todo mundo porque sabia dançar.
O RIDÍCULO – Será que ele é (1997): não é um filme sobre dança e sim uma comédia sobre um cara que tem dúvidas sobre sua sexualidade. Acontece que a cena do curso em fita cassete de como ser macho é simplesmente impagável. Especialmente quando o narrador diz: "Pense em John Wayne. Pense em Arnold Schwarzenegger. Arnold não dança. Ele mal anda". Você também vai pensar assim?